segunda-feira, 15 de outubro de 2012

“Ajté Kanoé Vararoeré” ('Nós somos Kanoé')

“Ajté Kanoé Vararoeré”
(‘Nós somos Kanoé’)
 Apresentamo-nos: nós somos da etnia Kanoé, de língua do mesmo nome, cujos últimos cinco falantes vivem em terras Indígenas no Estado de Rondônia, bem distantes entre si.
Os dois falantes idosos, Francisco Canoê e Júlio Canoê, por sua vez, também vivem relativamente distantes um do outro. Isso porque Francisco mora com os filhos e netos na Aldeia Ricardo Franco, na T. I. Sagarana. Assim, não há mais situação social para o uso efetivo de nossa língua nativa, posto que o Português tornou-se a língua maternal, dos remanescentes Kanoé do Vale do Guaporé, em Kanoé Rondônia e de outros indivíduos Kanoé dispersos em outras regiões do Estado. Além disso, quando os dois idosos se encontraram, outros problemas dificultam o uso da língua nativa: Francisco Kanoé tem dificuldades de audição e Júlio tem alguns problemas de memoria, pelo fato de Há muito não falar diariamente o Kanoé, de tal modo que a língua gradualmente sendo esquecida.

Por outro lado, a partir de 1995, a FUNAI, depois de 10 anos de insistência, conseguiu localizar e identificar uma família Kanoé na região do Rio Omeré, no sul de Rondônia. Esses nossos parentes, separados pelo tempo e pelo espaço geográfico, ficaram conhecidos como “Kanoé isolados do Omeré”. Esse grupo está hoje reduzido a três pessoas, dois adultos e uma criança, ainda falantes monolíngues em Kanoé, em bora já tenham aprendido algumas palavras e frases curtas do Português para as necessidades diárias de comunicação com servidores da FUNAI ou da FUNASA na T. I. Rio Omeré.
A existência de dois grupos distantes entre si e resultado de um processo histórico de dominação e submissão do nosso povo pelo homem “civilizado”. Assim, a partir da década de 1930 e sobre tudo de 1940, parte de nosso povo foi “aliciado” e deslocado para trabalhar com caucho e seringueiras, durante o final do “ciclo da borracha” na Amazônia. Posteriormente, quando já éramos poucos, fomos deslocados pelo SPI (Serviço de Proteção aos Índios) para a Aldeia Ricardo Franco, para a cidade de Guajará-Mirim e, alguns, para outras áreas indígenas de Rondônia. Isso quer dizer que a maioria sofreu um processo de dispersão e aculturação forçada ao longo da historia, com perda da terra, da língua e da cultura Kanoé.
Esse grupo aculturado tem hoje aproximadamente 150 pessoas e, para fins de identificação, é chamado de “Kanoé do Vale do Guaporé”. Não sabemos exatamente quantos somos, pois não temos noticias do paradeiro de alguns que foram levados pelos “brancos” seja para a capital Porto Velho, seja para outras regiões do Estado, e até mesmo para o interior de São Paulo, quando eram ainda jovens.
Neste blog, pouco a pouco vamos contar um pouco de nossa historia e de nossa cultura, de acordo com o que foi possível resgatar da memoria de nossos idosos. Além disso, vamos postar noticias relativas a nossa etnia e à pesquisa e documentação de nossa língua, no Projeto Kanoé do PRODOCLIN – Projeto de Documentação de Línguas Indígenas do Museu do Índio do Rio de Janeiro, em convênio com a UNESCO.
Laércio N. Bacelar

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